O caso envolvendo a prefeita Edinalva Oliveira Ramos (PT) e a vice-prefeita Cristina Carvalho (PV), de Rio da Conceição, levanta questões complexas sobre o uso do poder político e a desigualdade de gênero na política local. A acusação de uso indevido de maquinário público contra as gestoras, que levou à decisão de cassação dos mandatos, parece ter gerado um debate mais profundo sobre o papel das mulheres na política.
Por um lado, a alegação formal da Justiça Eleitoral aponta para uma infração administrativa. No entanto, a comunidade local parece ver o processo sob outra ótica: como uma retaliação política, principalmente em um contexto onde duas mulheres assumem cargos de poder, desafiando uma tradição de domínio masculino.
Moradores sugerem que, durante os mandatos de prefeitos homens, nunca houve um questionamento tão rigoroso sobre práticas semelhantes. Para muitos, a coincidência de as gestoras estarem sendo alvo de um processo logo após a vitória expressiva de Edinalva nas urnas — com mais de 400 votos de diferença — parece ser uma tentativa de reverter o resultado das eleições. As gestoras, por sua vez, mantêm a confiança de que o processo é uma manobra política, e a decisão da Justiça Eleitoral, que permite que elas permaneçam nos cargos enquanto recorrem, reforça a ideia de que o caso ainda pode ser revisado em instâncias superiores.
O fato de o tribunal não ter declarado a inelegibilidade das gestoras também sugere que as evidências podem não ser suficientemente sólidas para comprometer seus futuros políticos. Isso deixa o caso em aberto, gerando incertezas, mas também alimentando a discussão sobre como o jogo político pode, muitas vezes, ser distorcido por interesses pessoais e, em alguns casos, pelo fator de gênero.
A cidade, portanto, se encontra dividida. Uma parte da população acredita que a decisão judicial foi legítima, enquanto outra defende que se trata de uma estratégia para barrar o avanço de mulheres na política local, algo que ainda enfrenta resistência em muitas partes do Brasil.